Você sabe o que é a Conjuntivite?
Conjuntivite é a ocorrência de inflamação da conjuntiva, membrana mucosa ocular, que reveste as pálpebras (conjuntiva tarsal) e esclera (conjuntiva bulbar). A etiologia pode ser infecciosa (bacteriana ou viral) ou não infecciosa (alérgica). Na criança a causa mais comum é a bacteriana, enquanto no adulto etiologia viral é a mais comum.
Os principais mecanismos de defesa dos nossos olhos são as pálpebras, cílios e a lágrima. A produção e drenagem da lágrima tem um papel importante na remoção mecânica de patógenos da superfície ocular e o muco produzido pelas células caliciformes da conjuntiva são responsáveis por capturar microorganismos que serão removidas pelo filme lacrimal. Além deste papel mecânico, a lágrima contém mais de 500 tipos de fatores com atividade antimicrobiana. Dessa forma, qualquer alteração nesses mecanismos de defesa podem aumentar o risco de infecção ocular.
Como ela se manifesta?

Caso esteja apresentando alguns dos sintomas mencionados abaixo, procure um médico. As manifestações clínicas variam conforme a etiologia:
Conjuntivite Bacteriana
Pode ser dividida em hiperaguda, aguda e crônica.
Hiperaguda Bacteriana
Apresenta início dos sintomas em algumas horas, com secreção purulenta abundante, edema palpebral e da conjuntiva, podendo evoluir para envolvimento corneano e até mesmo perfuração ocular, se não tratado. A principal causa é pela N. gonorrhoeae, seguido pela N. meningitidis menos frequentemente.
Aguda Bacteriana
Por definição é uma conjuntivite autolimitada, com duração menor que 3 semanas. Paciente apresenta hiperemia conjuntival, edema palpebral, secreção mucopurulenta. As bactérias mais comumente envolvidas são Staphylocccus aureus, Streptococcus pneuminiae, Haemophilus influenzae (mais comum em crianças) e Pseudomonas aeuruginosa.
Crônica Bacteriana
Definida pela duração maior que três semanas. Relacionada mais comumente com a blefarite (inflamação crônica da pálpebras), tipicamente associada com S. aureus. O quadro é bilateral e manifesta-se com eritema (vermelhidão) e teleangectasia (vasos finos) da margem palpebral e crostas nos cílios. Pode estar relacionada com hordéolo (popularmente conhecido como terçol) de repetição, perda dos cílios e triquíase (cílios que crescem invertidos).
Sintomas associados são prurido, sensação de corpo estranho e pouca secreção ocular. Outra causa importante nos países em desenvolvimento é a conjuntivite por Chlamydia trachomatis. Os serotipos A, B e C causam o tracoma, importante causa de cegueira passível de prevenção e os serotipos D-K causa a infecção oculogenital, com a presença de conjuntivite folicular, opacidades corneanas e secreção mucopurulenta
Conjuntivite Viral
Mais comumente causada por adenovírus. Pode se apresentar associada com manifestações sistêmicas ou isoladamente. Manifesta-se com hiperemia conjuntival, secreção aquosa ou mucosa, sensação de corpo estranho, linfonodomegalia pré-auricular (popularmente conhecido como íngua). A ceratoconjuntivite epidêmica é uma forma causada pelo adenovírus tipo 8, 19 e 37. Cursa com sensação de corpo estranho intensa, com dificuldade de abrir os olhos, edema palpebral, presença de pseudomembrana na conjuntiva e ceratite.
Conjuntivite Alérgica
O quadro é bilateral, com presença de hiperemia conjuntival, secreção aquosa, quemose e prurido. Pacientes geralmente relatam história prévia de atopia. A conjuntivite alérgica perene e sazonal são os tipos mais comuns, a primeira ocorre durante todo o ano e está relacionada a agentes como ácaros e pó e a segunda ocorre geralmente devido a exposição ao pólen. Outro tipo é alergia de contato e as formas mais graves são a ceratoconjuntivite vernal e ceratoconjuntivite atópica.
A queixa de amanhecer com “olho grudado” ou presença de crostas ao acordar pode estar presente em qualquer uma das etiologias, não sendo indicado o uso deste dado para diferenciar a causa da conjuntivite.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e cultura não é necessário na maioria dos casos, sendo resguardada para conjuntivite neonatal, conjuntivite altamente agressiva ou atípica ou para casos refratários ao tratamento.
Tratamento
A base do tratamento de todos os tipos de conjuntivite é feito com colírios lubrificantes e compressas geladas para alívio dos sintomas. Os pacientes usuários de lente de contato devem suspender seu uso. Para a maioria dos casos de conjuntivite o uso de colírio de antibiótico não é necessário, e mesmo a conjuntivite aguda bacteriana é autolimitada, resolvendo sem tratamento em até 10 dias.
Quando a causa for viral ou bacteriana, por ser altamente contagioso, alguns cuidados são importantes: não compartilhar objetos de uso pessoal, como toalhas, roupa de cama, talheres, não abraçar, apertar a mão e ficar afastados de seus trabalhos ou escola enquanto houver secreção ocular. A transmissão se da por contato direto com a secreção ocular ou por contato com objetos contaminados, por isso esses cuidados.
Leia mais sobre alguns tipos de alergia ocular clicando aqui.
Referências:
- Uptodate. Conjunctivitis. Literature review current through: Mar 2020. This topic last updated: Feb 07, 2020. Disponível em https://www.uptodate.com/contents/conjunctivitis?csi=89264940-51f6-4593-9ae2-8ef296955d57&source=contentShare. Registration and login required.
- Copeland Jr, R.A; Afshari, N. A. Copeland and Afshari’s Principles and Practice of Cornea. Volume 1, 2013 jaypee Brothers Medical Publishers,
- American Academy of Ophthalmology Cornea/External Disease Panel. Preferred Practice Pattern Guidelines. Conjunctivitis. AAO 2013 Oct
- Duncan. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em evidências. 4ª edição. Artmed.